Alguma mulher -mais inteligente, charmosa e famosa que eu- disse uma vez que aconselhava às mulheres sempre saírem vestidas como se fossem encontrar seu príncipe encantado na rua. E esse "sair" incluí ir ao supermercado, dentista, escola e afins. Como não acredito em príncipe encantado, substituo por "um rolo em potencial" e concordo com a moça que disse isso. E vou sempre arrumadinha ao supermercado, dentista, escola. Arrumadinha não significa vestida prá matar, e sim uma criança poder me diferenciar de um pano de chão.
Mas hoje a preguiça me fez deixar isso de lado pela primeira vez aqui na cidade.
Eu estava aqui no MSN, feliz, de vestidinho hippie e mamãe me ordenou "vá buscar pão" e eu fui.
Não me olhei no espelho; sei que tava despenteada com o cabelo preso na nuca e com resto de maquiagem preta no olho, toda borrada no estilo mais tramp possível. Mas deu uma preguiiiiça de arrumar a juba e trocar prá calça jeans...
Então catei a Bolinha e fui.
Daqui prá padaria são duas quadras pequenininhas.
Adivinha se em frente à academia que eu frequentava o instrutor bonitão não estava na porta? Minutos de trivialidade, "nunca mais veio, Bel" "é, tô sem tempo" "você deu uma engordadinha" "deve ser porque não sou uma anoréxica obcecada que nem a sua mãe, seu broxa" e coisas assim. Ele brincou com a Bolinha, ela avançou nele e saí em busca do meu pão.
Três passos depois (contados) veio o bonitão que fazia academia comigo virando a esquina, o cara lindo e burro que sempre me chama prá tomar cerveja com ele e que sempre declino porque ele me deixa entediada. O vestido hippie pareceu mais curto e mais velho do que realmente é, sentia que todo mundo via minhas celulites da coxa e reparava que minhas pernas
não estavam depiladas.
Me beijou, jurou sentir minha falta lá na esteira (?), perguntou quando é que eu ia voltar prá academia. O que me consola é que ele estava suado e fedido, porque tinha acabado de sair da academia (coisa que notei por causa da proteção na mão e dos bíceps -e que bíceps- inchados). Saí de lá tendo certeza que ele não me chamou de novo prá tomar cerveja com ele porque notou que eu não era lá tãaao bonitinha quanto ele achava.
Atravessei a rua. Pro meu azar, o filho do verdureiro, um lindinho que fez cursinho comigo e agora estuda fora, estava ali. Na hora que o vi, minha vontade foi dar meia volta e ir colocar uma roupa decente, mas ele me viu antes. "Então, Béu, tô estudando Engenharia, morando numa república e..." e eu sentia que meu pé de unhas pintadas de vermelho-puta e descascando era a única coisa colorida do mundo.
Dei tchau e fui correndo prá padaria.
Inacreditavelmente, meu ÚNICO vizinho bonito estava lá. Eu nunca vejo aquela ameba bonita na rua, e quando vejo, tô fantasiada de mendiga. Fingi que não vi, mas ele me viu. E ele tava todo arrumadinho, tava saindo do trabalho (ele é modelo, só). Veio perguntar por quê sumi, por quê nunca fui na casa dele, por quê não tinha ido cumprimentar ele, e eu querendo me esconder entre as prateleiras de molho de tomate ou dar um jeito de me suicidar com as esponjinhas de lavar louça.
Eu tenho certeza que ele notou que eu tava usando Havaianas no pé, o resto de maquiagem borrada, as unhas da mão descascando o esmalte preto e a do pé descascando o vermelho, o cabelo de empregada em serviço, o vestido breguíssimo, pernas peludas etc etc etc. Ele inclusive falou que meu vestido parecia vestido de grávida (nota mental: mandar esse vestido prá
Doduti o mais rápido possível), mas meu ego já estava muito em frangalhos prá admitir qualquer ofensa.
Eu ia concluir esse post com uma observação engraçada, mas esqueci qual era. Então, façam vocês a observação engraçada.
(a melhor será postada aqui, sim)