A lenda de como nascem os manequins de vitrine

Coquete foi a palavra que me fez despertar.
A gente tava lendo um artigo na aula de francês e daí apareceu essa palavra no meio do texto, e ninguém sabia o que coquete significava. A professora não gosta de traduzir as palavras literalmente; ela prefere explicar prá gente, em francês, o significado do que não sabemos. E foi tentando (e não conseguindo) explicar coquete prá gente. Cansada de não-conseguir fazer a gente entender, ela falou: "Bien, regardez vous pour Bel. Bel est très coquete!" (trad: bem, olhem para a Bel. A Bel é muito coquete!, pelo menos acho que foi isso que ela falou), o que piorou bastante prá mim, porque Bel sou eu e porque eu não fazia a menor idéia de que diabos significa coquete. Ela falou que eu sou muito coquete, então, já comecei a imaginar possíveis significados prá coquete: estranha, desengonçada, repulsiva, entre outras coisinhas simpáticas assim que o meu ego poeirento me sussurrou.
Graças aos céus, coquete significa "vaidosa". Mas, uau, ser tomada de exemplo como uma mulher vaidosa é um grande passo prá mim que, pros padrões, sou bem exótica. Sempre relacionei vaidade com futilidade, e ambas bem longe de mim. Mas a professora de francês tava certa. Eu sou extremamente coquete.
Chego atrasada nas aulas, mas não chego sem delineador no olho e gloss na boca. Gasto maior grana prá manter meu cabelo vermelho-tomate do jeito que eu gosto. Passo hidratante, creme anti-rugas e protetor solar TODOS os dias (quando eu tiver 40 anos aposto que vou ter minha própria fábrica de formol).
Caramba, isso é fútil demais. Eu nunca tinha reparado na minha futilidade até chamarem minha atenção para a vaidade. Mas isso não é ruim. Eu me cuido na medida do possível, e muito. Logo, gosto de ver gente cheirosa e bem-cuidada porque se eu quisesse ver um símio fedido, eu iria ao zoológico. Uma certa futilidade é necessária para felicidade geral da nação, sabe?
O grande problema é quando essa certa-futilidade-necessária possui as pessoas, que nem uma pomba-gira. Aí as outras-coisas-necessárias acabam murchando, de dentro prá fora.
E é assim que nascem os manequins de vitrine (Y).