a idéia para essas historinhas baseadas em fatos reais veio quando eu estava sem internet. já tem uns cinco casos arquivados, todos mais verdadeiros que a virgindade do Papa...Parece mentira, mas não é
I.O local era a casa noturna
Madame Satã, um dos meus locais preferidos quando estou em São Paulo. A iluminação de velas e a música dos anos 80 me agrada bastante. Enfim, não vou fazer propaganda da casa de graça.
Era uma quinta feira, fim de balada. Já era quase seis e meia da manhã, tava aquele pequeno tumulto no caixa, prá todo mundo pagar a continha e ir embora, devia ter umas quarenta pessoas amontoadas em dois metros cúbicos.
Como eu não estava com pressa e nem com disposição de ser esmagada por aqueles góticos cheios de spikes, fui sentar em uma mesa próxima, prá esperar o tumulto se dispersar. Bem do meu lado havia um garoto sentado, e em frente a ele, uma garota em pé. Ele era bem bonitão, alto, meio fortinho, sorriso de modelo. A garota era mais bonita ainda. Branquela, cabelo vermelho escuro até o meio das costas, olhos bem azuis, usando um corpete de couro e uma saia mais justa que Deus. Eu sentei perto, olhei os dois mas não prestei atenção. Era óbvio que ele estava xavecando a moça, e eu não queria nem olhar prá não atrapalhar o moço. Fiquei olhando o tumulto pagando as contas, góticos abaixando prá catar moeda que caía no chão...
Aí o cara vira prá mim e fala:
- ... você não acha?
Eu me assustei.
- Acho o que?
- Que ela é a moça mais bonita aqui (ou alguma coisa assim, não lembro direito).
Eu não soube responder.
A moça ruiva sorriu prá mim e falou que o cara era mó xavequeiro. E perguntou meu nome. Não sei porque cargas d'água eu respondi "... é Ana".
Ela sorriu prá mim de novo e falou "eu também sou Ana. Só que Luciana".
Eu fiquei com cara de ponto de interrogação. Tipo, eu não tinha
nada a ver com aquilo, e ela ia ser uma leprosa burra se não beijasse o bonitão. Acabou que os dois me incluíram na conversa, e eu tava tentando fazer ela beijar o moço.
Ela enrolava, enrolava, enrolava... e eu falava "olha como ele é bonitão. Dá uma chance prá ele, pô" (ou algo assim. Eu tava
meio bêbada, né).
A Luciana balançou a cabeça, e falou "não... vou embora agora". Ela se inclinou, beijou o rosto do moço, veio para o meu lado e me beijou... tipo, na boca.
Eu só ouvi o bonitão ao lado gritar "EU NÃO ACREDITO".
Porra... constrangedor. É aquela coisa mais "se não vai ajudar, não atrapalha". Me senti como quando eu ia ajudar minha mãe a cozinhar batatas e acabava deixando tudo queimar.
Eu e o cara ficamos uns cinco minutos em choque, até ela acabar de pagar a conta e acenar prá gente.
Ele: Você tem noção que eu tô tentando beijar a Luciana faz quase duas horas?
Ele parecia bravo. Eu não sabia o que dizer. Mas
o que dizer numa hora dessas?!
A deusa ruiva me quis, e não a ele. Game over. Eu ganhei. Fatality prá ele.
(apaoskdpoaksopsako, adoro falar isso).
Achei que ele fosse me odiar, mas acabei foi ganhando uma carona prá casa e uma enorme e suculenta massagem no ego.
Pode parecer mentira, mas
não é.
_Portishead - Glory Box_